terça-feira, 1 de setembro de 2020

Falar de sexualidade com o meu médico: devo fazê-lo?


A puberdade é uma época de transição entre a infância e a idade adulta, um período marcado por profundas alterações biológicas, fisiológicas e psicológicas, durante o qual o corpo adquire os caracteres sexuais (masculinos e femininos) associados ao sexo biológico, dando-se igualmente a maturação do aparelho reprodutor e a aquisição da capacidade reprodutiva.

A descoberta da sexualidade atinge o seu auge. O desejo sexual torna-se mais específico e vários estímulos adquirem valor sexual. Com uma maior atividade hormonal, os jovens passam por várias alterações ao nível do corpo, designadamente aumento dos órgãos sexuais, os rapazes têm as primeiras ejaculações, que geralmente ocorrem durante o sono (os chamados “sonhos molhados”) e nas raparigas surge a primeira menstruação (menarca). Habitualmente é neste período que ocorrem os primeiros contatos sexuais e as primeiras experiências.

Pretende-se que a sexualidade seja uma fonte de bem-estar. No entanto existem, algumas consequências evitáveis como a gravidez não desejada, interrupção voluntária da gravidez e Infeções Sexualmente Transmissíveis (IST).

Apesar de cada vez mais teres acesso a uma grande quantidade de informação sobre questões relacionadas com a sexualidade fornecidas pela comunicação social e internet, a consulta médica continua a ser o local apropriado para te informares e esclareceres as tuas dúvidas sobre o risco das relações sexuais desprotegidas, as IST e o uso responsável da contraceção. Existem algumas vantagens de consultares o teu médico em vez de “consultares a net” das quais te vou falar:

Primeiro é importante que saibas que o objetivo do teu médico é manter a saúde das pessoas que o consultam, portanto, saberás que o que ele te recomendar é com o objetivo de te ajudar.

Além disso, os médicos sabem que a saúde física é tão importante e como a saúde psicológica e social, por isso vai querer ajudar-te a viveres a sexualidade de forma feliz e saudável, mas também responsável.

Ele sabe que nem sempre é fácil partilhar estas questões com outras pessoas, mas quer que saibas que ele estudou a melhor forma de te ajudar e tem experiência na área, sobretudo se se tratar do teu Médico de Família ou um médico Ginecologista.

O teu médico não te vai “julgar” pelas opiniões que manifestares na consulta, nem vai considerar que a pergunta que colocas é “absurda”. Pelo contrário, vai ficar satisfeito por perceber que conseguiu estabelecer uma relação de confiança entre ambos que te permite estar à vontade para colocares as tuas dúvidas sem receios.

A escolha do método contracetivo é uma tarefa importante. Ninguém te vai obrigar a escolher determinado método, mas vão sim, dar-te a conhecer as opções que tens face à tua história clínica que só o teu médico conhece com segurança. Depois, vai apresentar-te quais as vantagens e desvantagens de cada método para que possas fazer uma escolha informada.

No teu Centro de Saúde são fornecidos de forma gratuita preservativos e existem também métodos contracetivos gratuitos como contracetivos hormonais (por exemplo: a “pílula”), o anel vaginal, o implante subcutâneo e até dispositivos de aplicação intrauterina.

É importante prevenir gravidezes na adolescência, mas sabemos que os acidentes acontecem e mesmo nesses momentos poderemos ajudar-te, mas nesses casos deves recorrer ao teu médico o mais rapidamente possível.

E lembra-te, a sexualidade é uma fonte de prazer e comunicação, uma potencial fonte de vida e uma componente positiva de realização pessoal e das relações interpessoais. Nunca em nenhum momento a tua autonomia e liberdade de escolha podem ser colocadas em causa e por isso nada justifica a ocorrência de violência, coação, domínio ou exploração nas tuas relações de intimidade. Se sentires que isso está a acontecer contigo podes pedir ajuda ao teu médico que ele saberá ajudar-te.

Por fim, não te esqueças que a consulta com o teu médico está sujeita ao dever de sigilo médico, isto é, podes partilhar com ele as tuas preocupações que serão tratadas de forma confidencial.

Ana Vaz Ferreira, Médica de Família