segunda-feira, 15 de abril de 2019

As tuas dúvidas têm um espaço: vacina do HPV


Como prometido, todos os meses vamos responder em texto aberto às 5 dúvidas mais frequentes sobre o tema do mês. Como já sabes, o tema de Abril é " Vacina do HPV", e assim sendo aqui ficam as respostas às perguntas mais comuns. 

1. A vacina do Centro de Saúde é só dada as raparigas. É uma vacina exclusiva das meninas?

O Programa Nacional de Vacinação Português para já apenas oferece a vacina às raparigas, mas os rapazes também têm toda a vantagem em recebê-la. 
Tratando-se o HPV de uma doença sexualmente transmissível, é real a importância da prevenção em ambos os sexos. 

Assim, diminui-se o risco de transmissão e previne-se a incidência de doença no colo do útero, anûs, pénis, orofaringe ou outros locais relacionados com a transmissão sexual do vírus.


2. Como é administrada a vacina?

A vacina contra os genótipos 16 e 18  (bivalente - Cervarix) é administrada aos 0, 1 e 6 meses (3 doses).

A vacina contra os genótipos 6,11,16,18 (tetravalente – Gardasil 4) e contra os genótipos 6,11,16, 18, 31, 33, 45, 52 e 58 (nonavalente – Gardasil 9) tem uma administração que depende da idade:

  • Para rapazes e raparigas ≥ 10 e < 15 anos de idade: esquema de 2 doses aos 0 e aos 6 meses
  • Para rapazes e raparigas ≥ 15 anos: esquema de 3 doses aos 0, 2 e 6 meses.


3. Quanto custa a vacina?

A vacina quando administrada segundo o plano nacional de vacinação é gratuita, isto é para raparigas com idade inferior a 18 anos.

Para mulheres com mais de 18 anos e  para os rapazes, cada dose da vacina nonavalente (Gardasil 9) custa 143.40 euros, sendo que dependendo da idade devem ser feitas 2 ou 3 doses (286.8 euros ou 430.2 euros).

Cada dose da vacina bivalente (Cervarix) custa 45.66 euros. Assim sendo, as 3 doses recomendadas tem um custo total de 136.98 euros.

4. A vacina previne por completo o aparecimento do cancro do colo do útero?

A vacina previne o aparecimento do cancro do colo do útero relacionado com os vírus abrangidos pelos genótipos da vacina.

Como já explicado, 70-75% dos casos de cancro do colo do útero estão relacionados com infecção por HPV tipos 16 e 18. Assim sendo, todas as vacinas disponíveis abragem estes genotipos. 

A vacina tetravalente abrange ainda os genótipos 6 e 11 responsáveis na sua maioria pelo aparencimento de verrugas e condilomas (90%). 

A vacina novavalente acresce a estes genótipos os 31, 33, 45, 52 e 58, considerados também HPV de alto risco para o aparecimento de cancro do colo do útero. 

Assim, compreendemos que a vacinação é essencial para a prevenção do cancro do colo do útero, não devendo ser descurado o uso do preservativo.


5. Se eu fizer a vacina, já não preciso fazer o rastreio do cancro do colo do útero?

Não, esta informação não é verdadeira. Apesar da vacinação ser um passo importante na prevenção do cancro do colo do útero, o rastreio deve ser mantido para todas as mulheres de igual forma.



Não percam já no próximo  mês um novo tema de debate no blog: as transformações da puberdade!
Até lá.

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Vacina do HPV


O HPV (vírus do papiloma humano) é um vírus que infecta seres humanos. Foram identificadas mais de 200 sub-tipos. A sua transmissão é feita através do contracto directo entre indivíduos, sendo a transmissão vertical muito rara.

A maioria das infecções provocadas pelo HPV são transitórias e regridem espontaneamente, no entanto, cerca de 10% podem tornar-se persistentes e as lesões resultantes, quando não tratadas, podem evoluir para um estado de pré-malignidade (3-4%) ou cancro. A evolução destas lesões é geralmente muito lenta e assintomática.
As infecções persistentes podem causar lesões benignas como as verrugas ano-genitais, condilomas, as verrugas das mãos e pés conhecidas por “cravos” e lesões do epitélio do colo do útero e da cavidade orofaríngea. Infecções persistentes por estirpes de alto risco podem ser responsáveis pelo cancro colo do útero (CCU), menos frequentemente cancro da vulva, vagina, ânus e mais raramente o cancro laríngeo, orofaringe e boca. O CCU é, assim, a patologia mais relevante relacionada com a infecção persistente pelo HPV que evolui para formas invasivas.

70-75% dos casos de CCU estão relacionados com infecção por HPV tipos 16 e 18. 90% dos condilomas estão relacionados com infecção pelos genótipos 6 e 11.
A Infecção ano-genital por HPV é a infecção de transmissão sexual mais comum. O vírus pode ser transmitido durante o sexo vaginal, oral, anal ou durante o contacto íntimo entre indivíduos em que pelo menos um esteja infectado. Tal como a maioria das DST a incidência é maior em jovens na faixa dos 15-25 anos. Estima-se que cerca de 80% de indivíduos sexualmente activos do sexo masculino e feminino sejam expostos ao HPV em alguma altura das suas vidas.

Muitas lesões, como os condilomas, são imperceptíveis pela sua localização e dimensões. Outras como as localizadas no colo do útero, poderão não ser detectadas caso não se proceda ao seu rastreio de forma regular.
O teste citológico do colo uterino, a colpocitologia, é a forma de rastreio que permite identificar e tratar precocemente as lesões precursoras do CCU. O teste do HPV-DNA possibilita a caracterização genotípica do vírus e está recomendado perante alterações das células do colo uterino presentes no rastreio, de forma a definir um plano de vigilância e tratamento.

Não existe tratamento para a infecção por HPV, mas para as lesões decorrentes. Este pode consistir na destruição ou excisão dos tecidos afectados.
A vacina contra o HPV é a forma mais eficaz de prevenção da infecção por HPV.
Ouras medidas preventivas são a utilização do preservativo e a adopção de comportamentos sexuais saudáveis.

A vacinação universal contra o HPV tem como objectivo a prevenção de infecções por este vírus e a diminuição a longo prazo da incidência de cancro do colo uterino que é o 2º cancro mais comum nas mulheres a nível mundial. Esta doença mata mais de 4,5/100000mulheres acima dos 15anos em Portugal (2005).
A Introdução desta vacina foi aprovada em Portugal em 2008.
As vacinas existentes protegem contra os subtipos que se sabem serem mais oncogénicos, ou seja que poderão causar o cancro do colo uterino e também contra as estirpes responsáveis pelos condilomas ano-genitais.
São comercializadas actualmente vacinas contra os genótipos 16 e 18  (bivalente), 6,11,16,18 (tetravalente) e mais recentemente 6,11,16, 18, 31, 33, 45, 52 e 58 (nonavalente). A produção é feita a partir de partículas semelhantes à capsula do vírus (VLP) através de tecnologia de DNA recombinante. Após a sua administração intra-muscular o sistema imunitário do indivíduo reage produzindo anticorpos que neutralizam estas partículas.

A vacina faz parte do plano nacional de vacinação, sendo administrada a meninas entre os 12- 13 anos. A vantagem da vacinação nestas idades prende-se com a menor probabilidade de prévia exposição ao vÍrus e a uma maior de produção de anticorpos.
Estudos demonstram ser eficaz mesmo quando administrada mais tarde. Pode ser recomendada em casos de lesão do colo uterino previamente diagnosticada e tratada, na medida em que reduz a reinfecção, previne infecção por outras estirpes, diminuindo a recorrência das lesões.
Recomendações actuais vão no sentido da vacinação de rapazes, o que já integra o plano vacinal de alguns países.
Vários estudos têm sido conduzidos mundialmente de forma a garantir a segurança da vacina. Até à data não se encontrou associação entre a vacina contra o HPV e eventos adversos auto-imunes, neurológicos ou tromboembólicos.

Com uma boa adesão a esta vacina a nível global poderemos, num futuro próximo, erradicar o cancro do colo do útero e reduzir a incidência de outras neoplasias.



Dra Naiegal Pereira 
Hospital Beatriz Ângelo (Loures)