quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Violência Sexual


Alguma vez te sentiste incomodada/o por um ato ou atitude de natureza sexual e achaste que era melhor guardar segredo, ou que a culpa foi tua, ou deste por ti a desvalorizar o sucedido embora sentindo tristeza, angústia, medo, raiva ou repulsa? Conheces alguém a quem isto possa ter acontecido?

A Violência Sexual (VS) é qualquer tentativa ou interação de natureza sexual que acontece ou sem o consentimento ou sem a autodeterminação da pessoa que dela é vítima. Pode acontecer a qualquer pessoa, independentemente do sexo, idade ou outras características pessoais/culturais, mas estima-se que cerca de 35% das mulheres em todo o mundo já foram alguma vez vítimas de VS. Ela pode ser perpetrada por uma ou várias pessoas, que podem ser desconhecidas da vítima ou manter com ela diferentes tipos de relacionamentos (amizade, namoro, familiar, etc.). Isto é, a VS pode acontecer a qualquer pessoa, praticada por qualquer pessoa ou grupo de pessoas.

A VS é crime na lei portuguesa, expressa no nosso Código Penal, logo a vítima nunca é culpada. Perante a lei, pessoas com menos de 14 anos não possuem autodeterminação sexual, pelo que, mesmo que tenham consentido o ato sexual em causa, continua a ser um crime para quem o pratica. Se a vítima tiver entre 14 e 17 anos, em algumas circunstâncias, pode também considerar-se crime, caso seja praticado por alguém significativamente mais velho ou com uma relação de autoridade/poder sobre a vítima. Se a vítima tiver mais de 18 anos, é crime contra a liberdade sexual, logo só é crime se a pessoa não tiver consentido. Tendo a vítima idade inferior a 18 anos, a VS é um crime público, podendo ser denunciado por qualquer pessoa, anonimamente, não precisando de ser a vítima a apresentar queixa.

Muitas vezes, a VS passa despercebida porque se considera que ela só acontece quando há violação, vista como uma relação sexual com penetração não consentida. Não é verdade. Embora qualquer forma de penetração (seja vaginal, oral ou anal) não consentida seja um ato de VS, a sexualidade e as interações sexuais vão muito para além do coito. Além disso, a maioria dos abusos sexuais a crianças e jovens não incluem coito e resultam noutras formas de violência sexual, presentes no processo de aliciamento, que pode ser longo. Desengane-se quem acha que a violência sexual acontece sobretudo a partir de estranhos que violam pessoas inesperadamente. A maioria das vezes, a vítima relaciona-se ou é familiar do agressor sexual.

Assim, são formas de VS, para além das relações coitais não consentidas:
- a pressão ou obrigação para tocares nos genitais de alguém
- todo o tipo de toques no teu corpo que não consentiste (seres apalpado/a ou alguém roçar partes do seu corpo no teu)
- seres pressionado/a ou obrigado/a para assistires a filmes ou atos de natureza sexual e/ou pornográfica que não desejas presenciar
- pressionarem-te a enviares imagens íntimas tuas, ou terem interações online contigo aparentemente não sexuais e manipuladoras, com o objetivo de marcar um encontro contigo para fins sexuais (sexting e grooming)
- pressionarem-te ou obrigarem-te a te prostituíres
- dirigirem-te “piropos”, que na realidade são comentários sexuais explícitos e/ou ofensivos ou que te provocam medo (assédio sexual).

Se isto já aconteceu a ti ou a alguém que conheces, podes denunciar às autoridades e ligar gratuitamente para a linha 116 006 da APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima). Lembra-te que será tudo mais difícil e penoso se te isolares. Protege-te. Procura apoio especializado.

Sónia Araújo
Psicóloga e Terapeuta Sexual
M’BE Mindful Butterfly Effect  

sábado, 2 de novembro de 2019

Efeitos indesejáveis da pílula



A pílula é o método contraceptivo mais amplamente difundido e habitualmente o primeiro a ser iniciado pelas adolescentes. A maioria das pílulas utilizadas é constituída por 2 hormonas: estrogénio e progestativo, que se associam numa variedade de combinações e dosagens possíveis. Se esta é a tua opção, é importante que tenhas presente alguns possíveis efeitos:


1.Diminuição do fluxo menstrual/ausência de menstruação
Diminuição do fluxo menstrual é um efeito comum da pílula e muitas vezes desejável. Mas pode mesmo ocorrer ausência de menstruação. Depois de excluída gravidez, deves manter-te tranquila. É um efeito possível e sem qualquer tipo de implicação em termos de saúde. Se isso para ti for inaceitável, é muitas vezes só uma questão de alterarmos a pílula para uma de maior dosagem.


2. Perda de sangue entre as menstruações
É um efeito possível e particularmente expectável se te esqueceres de algum comprimidinho do blister. Nestes casos, pode acontecer sistematicamente quando há atraso ou esquecimento. Se assim for, este talvez não seja o método ideal para ti, porque a eficácia contraceptiva fica comprometida.
Pode também ocorrer se tomares simultaneamente alguma medicação.
Se  tudo isto estiver excluído e te incomodar, devemos ponderar alterar a dosagem da pílula.


3. Dores de cabeça
As dores de cabeça são uma das queixas mais comuns, particularmente na pausa da pílula. Estão relacionadas com a dosagem da pílula. Uma das opções é fazeres uma pausa mais curta ou mesmo não fazeres pausa.


4. Náuseas e vómitos
A presença destas queixas está muito relacionada com a dose de estrogénios da tua pílula. Não desistas antes de tentares pelo menos 3 meses e experimenta tomar à refeição. Se ainda assim não melhorar, podemos alterar a pílula ou optar por uma contracepção não oral.


5. Dor mamária
Tensão e dor mamária também se relacionam com a dose de estrogénio da tua pílula ou com o tipo de progestativo. Se não for tolerável, deves aconselhar-te com o teu médico de outras opções disponíveis


6. Pernas pesadas/Retenção de líquidos
Pela dose de estrogénio e o tipo de progestativo, podes ter alguma destas queixas. Muitas vezes, o ajuste é possível.


7. Alterações de humor
Ainda que na maioria das vezes não seja uma alteração significativa, pode acontecer particularmente no período da pausa. Relaciona-se com a influência que as hormonas da pílula têm na produção de uma outra hormona (a serotonina) que é responsável pela sensação de bem-estar e prevenção da depressão. Deves avaliar se é motivo suficiente para optares por outro contraceptivo.


8. Alteração de peso
Não é esperado que o teu peso varie mais de 1-2 kg. É importante manteres uma alimentação saudável e praticares exercício físico de forma regular.


Se souberes que estes efeitos são expectáveis, menor é a probabilidade de abandonares a pílula. Nunca te esqueças que deves dar sempre 3 meses de oportunidade antes de ponderares alterar o método. De acordo com as tuas queixas, temos imensas pílulas disponíveis. Certamente arranjaremos uma que vá de encontro às tuas necessidades!


Dra. Rita Mesquita Pinto
Centro Hospitalar Tondela Viseu


quarta-feira, 2 de outubro de 2019

A obesidade diminui a probabilidade de ter filhos?




O que é a Obesidade?

A obesidade é definida pelo índice de massa corporal (IMC 30). O cálculo é feito dividindo o peso (em quilogramas) pela altura (em metros) ao quadrado.
Hoje em dia, a obesidade é duas vezes mais comum entre adolescentes do que era há 30 anos (cerca de 15,87% adolescentes do sexo feminino, em Portugal, têm excesso de peso ou são obesas). A maioria dos adolescentes obesos permanece obesa na idade adulta, com maior probabilidade de desenvolver hipertensão arterial e diabetes tipo 2, entre outros problemas.


Que influências tem a obesidade na fertilidade feminina?

Os riscos associados à obesidade são irregularidades menstruais, doenças do endométrio (camada que reveste o interior do útero) e infertilidade (dificuldade em engravidar).
As mulheres obesas têm também mais complicações na gravidez, incluindo diabetes gestacional, hipertensão, parto pré-termo e parto por cesariana.


E porque é que isto acontece?

- Existe uma alteração funcional no eixo hipotálamo-hipófise-ovário, que regula o ciclo menstrual. A insulina (uma hormona) está aumentada nas mulheres obesas o que causa aumento dos níveis de androgénios (a testosterona – sim, as mulheres também têm testosterona!), que são transformados em estrogénios no tecido adiposo (gordura) periférica. Como consequência, o cérebro é “enganado” e acha que o ovário não precisa de ser estimulado, o que causa irregularidades menstruais e disfunção da ovulação;
- O tecido adiposo periférico funciona como um grande órgão endócrino, uma vez que acumula energia, e secreta adipocinas (funciona também como uma hormona). Uma delas, a leptina, quando em excesso altera a secreção hormonal (estrogénio e progesterona) dos ovários, afetando o endométrio e a implantação do embrião;
- O excesso de gordura pode tornar-se tóxica, o que favorece também o aumento da insulina e a inflamação crónica.


O que posso fazer para ter um estilo de vida saudável?

1)      Alimentação variada e saudável
A perda de peso (cerca de 5 a 10% do peso) melhora significativamente a fertilidade da mulher, regula o ciclo menstrual e aumenta a possibilidade de ovulação espontânea.
É importante aprender a fazer escolhas alimentares saudáveis e não fazer uma dieta restritiva durante um período de tempo limitado e depois voltar a aumentar de peso (dietas “yo-yo”).
Comer regularmente, evitar as comidas fast-food, tomar sempre o pequeno-almoço em casa, beber preferencialmente água e incorporar legumes nas principais refeições são algumas das dicas! Na mudança de hábitos alimentares é importante teres o apoio dos teus familiares e amigos, que torna tudo mais fácil.

2)     Estilo de vida e Exercício físico

O exercício físico também é muito importante na perda de peso e na construção de hábitos de vida saudável. O desporto ajuda também a aliviar o stress e podes conhecer novos amigos. Se tiveres oportunidade pratica uma atividade desportiva fora da escola, mas também podes optar por usar as escadas em vez do elevador, andar a pé em vez de usar o carro e aproveitar para passear com os amigos.
Também deves evitar o tabaco e o álcool que são prejudiciais à tua saúde.


E tu? O que podes fazer para melhorar a tua fertilidade futura?



Dra. Marta Pinto

Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Contraceção de longa duração


A contraceção de longa duração não depende da lembrança diária da sua toma pelas utilizadoras. Existem diferentes tipos que variam na sua forma de administração e período de tempo após o qual deve ser trocada.

É um excelente método para aquelas adolescentes que se esquecem frequentemente de tomar a pílula ou que usem outros métodos mais dependentes da sua lembrança. De realçar que todos eles são reversíveis, o que significa que quando suspensos a fertilidade volta ao seu normal.

Em Portugal temos o progestativo injetável, progestativo subcutâneo e os dispositivos intra-uterinos.


Progestativo injetável

Em Portugal existe o Depo-Provera®  que é um progestativo isolado (não tem estrogénios) e é administrado sob a forma de injeção intramuscular de 12 em 12 semanas (3 em 3 meses) no Centro de Saúde ou Hospital.

Deve ser iniciado idealmente nos primeiros 7 dias da menstruação para garantir maior eficácia contra uma gravidez indesejada, sendo depois repetido de 12 em 12 semanas como explicado anteriormente.
Pode ainda assim ser iniciado em qualquer fase do ciclo, desde que excluída uma gravidez e com uso de proteção adicional com preservativo durante os 7 dias seguintes à primeira injeção.
Se por acaso já fazes outro método contracetivo e queres mudar para o progestativo injetável é possível, sendo aconselhado manter o outro método durante 7 dias após a injeção e só depois descontinuá-lo.
Em caso se esquecimento da injeção intramuscular para além das 15 semanas de intervalo, deve ser feito um teste de gravidez antes da próxima injecão e ter cuidado em usar proteção adicional com preservativo durante a primeira semana após a toma.

Ainda que seja um método possível nas adolescentes, não deve ser a escolha de primeira linha porque pode interferir com a densidade mineral óssea. Apesar de ser um método resersível, o retorno à fertilidade pode não ser imediato após a sua suspensão.


Progestativo subcutâneo

Existe o Implanon NXT®, um implante que parece um pequeno bastão com cerca de 4 cm de comprimento e 2 mm de largura. Este liberta progestativo isolado (não tem estrogénios) e coloca-se debaixo da pele do braço no Centro de Saúde ou Hospital. A colocação é simples e rápida, após a administração de anestesia local. É muito eficaz e apenas precisa ser trocado de 3 em 3 anos. A sua remoção é igualmente feita num centro médico, após uma anestesia local e uma muito pequena incisão no braço através da qual se tira o implante.

O implante deve idealmente ser inserido nos primeiros 5 dias do ciclo, mas pode ser iniciado em qualquer altura, desde que excluída uma gravidez e com uso de proteção adicional com preservativo durante os 7 dias seguintes à colocação.

Se já fazes outro método e queres introduzir o implante, a troca é possível sem precisar de contraceção adicional. Idealmente deves fazê-lo da seguinte forma:

  • Pílulas com estrogénio e progestativo – inserir durante a semana de suspensão do método
  • Pílulas só com progestativo – inserir em qualquer momento
  • Progestativo injetável – inserir na data da próxima injeção
  • Implante subcutâneo ou DIU – inserir no momento da remoção do método anterior

Após a sua remoção, o retorno à fertilidade é imediato. As “menstruações” podem ser regulares, irregulares ou até mesmo ausentes, sem que nenhuma das situações traduza um problema médico.


Dispositivos intra-uterinos (DIU´s)

Os dispositivos intrauterinos (DIU´s) podem ser hormonais ou não hormonais. Apesar dos mitos sobre a introdução de DIU´s na adolescência, estes podem ser utilizados, existindo mesmo opções com cânulas de inserção de menor tamanho para faciliar a introdução.

A sua colocação é feita no Centro de Saúde ou Hospital, idealmente no período menstrual. É utilizada a marquesa ginecológica e um espéculo, que é um aparelho de metal ou plástico que permite ver o colo do útero e assim introduzir o aparelho através deste orifício para dentro da cavidade uterina. 

Existe um ligeiro desconforto aquando da sua colocação, mas não é necessária qualquer tipo de anestesia. São deixados cerca de 2 cm de fio na vagina que vai ser importante para tirar o dispositivo mais tarde. Os fios e o aparelho não se vêem e não se sentem na relação sexual, sendo um método muito eficaz e confortável.

Existem DIU´s com libertação de hormona que podem ser trocados de 3 em 3 ou de 5 em 5 anos, consoante o aparelho pelo qual se opte. Nos casos do DIU não hormonal, a troca pode ser feita de 10 em 10 anos.

Para a sua remoção, é necessário novamente ir ao centro médico utilizando-se um método semelhante à introdução mas ainda mais simples, porque consiste apenas em puxar o aparelho pelos fios que ficaram na vagina.

Após a sua remoção, o retorno à fertilidade é imediato.
Nos DIU´s hormonais as “menstruações” podem ser regulares, irregulares ou até mesmo ausentes, sem que nenhuma das situações traduza um problema médico. No caso dos DIU´s não hormonais, as menstruações continuam com a regularidade que tinham antes da sua colocação.


Se te esqueces muitas vezes de tomar a tua contraceção e andas sempre preocupada, um destes métodos pode ser a solução. São seguros, práticos e totalmente gratuitos nos Centros de Saúde e Hospitais. 



E então, qual é o método contracetivo ideal para ti?


Dra.Tânia Ascensão
Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra


segunda-feira, 1 de julho de 2019

A intimidade e os media


Já te imaginaste ou tiveste a experiência de viver por um tempo sem telemóvel, computador ou outros dispositivos que te permitem estar online?

Talvez não seja tão difícil como possas pensar, mas será com certeza uma experiência bem diferente da realidade que os/as jovens como tu vivem no dia-a-dia.
Vivemos numa era digital e a verdade é que as novas tecnologias fazem parte da vida de todos nós, permitindo-nos estar conectados em permanência com os outros e com o mundo.

Os telemóveis, as redes sociais como o WhatsApp, o Instagram, o Facebook e o Twitter, o Tinder e os jogos online, são exemplos de novas formas de socializar que tens à tua disposição e te permitem estar em permanente contacto com os outros, o que representa, sem dúvida, muitas vantagens, mas também alguns riscos.

É importante que saibas quais os cuidados que deves ter na sua utilização e que disponhas da informação correta para identificar os possíveis perigos e riscos que determinados comportamentos podem representar, salvaguardando a tua privacidade, intimidade, segurança e bem-estar.
O mundo online dá-te a oportunidade de “conhecer” e interagir com muitas pessoas e podes, inclusivamente, manter várias “amizades” virtuais sem nunca teres contacto direto com as pessoas.

Apresentamos-te alguns dos aspetos que deves ter em atenção, com vista a protegeres a tua identidade e privacidade online:

Cuidado com as fotografias e vídeos que partilhas. 
Muito do que fazes e dizes online pode ser visto, e inclusive, fica registado! Mesmo que posteriormente te arrependas e queiras eliminar e apagar, nunca poderás controlar quem tem acesso a esses dados e de que forma pode utilizar essas informações ou imagens.
Uma boa regra para saberes se determinado comentário ou foto é adequado para publicar, será tentares perceber se num contacto direto o farias e se não te importavas que esse comentário ou foto fosse do conhecimento de outras pessoas. Se achas que não, então o mais provável é que também não o queiras fazer online.

Não publiques comentários impróprios ou sexualmente provocativos
Para além destes comentários poderem levantar questões éticas, morais e até legais, é importante que saibas que ao assumires determinados comportamentos de cariz sexual na internet, estes podem suscitar uma atenção sexual indesejada e uma maior exposição a situações de assédio moral ou sexual.
O anonimato em salas de chat, redes sociais ou noutros sites, pode levar algumas pessoas a dizer ou fazer determinados comentários ou ainda a partilhar fotos íntimas, pela ilusão de que são momentos privados, no entanto, tal não corresponde à verdade, pois estes podem ser facilmente partilhados e divulgados e/ou até, motivo de chantagem financeira ou para que envies novas fotos.
 É provável que já tenhas ouvido falar ou até conheças alguém que viu a sua privacidade comprometida ou teve problemas por algo que publicou ou partilhou online.

Não respondas a comentários ou conteúdos ofensivos. 
Não aceites pedidos de amizade se o conteúdo da página te deixar desconfortável. Muitos/as jovens recebem mensagens e solicitações impróprias quando estão online. Estas podem provocar receios, medos, estranheza e mesmo embaraço.
Se sentires que estás a ser assediado/a por uma pessoa estranha ou “um/a amigo/a” on-line, responder pode piorar a situação, envolvendo-te numa troca de mensagens que te pode comprometer e/ou levar a fazer algo que não desejas.
O ideal será bloqueares o acesso a essa pessoa e falares com uma pessoa adulta da tua confiança dando conhecimento desta situação.

Não respondas a solicitações inadequadas.
Não aceites conhecer os/as “amigos/as” virtuais pessoalmente, tal como não o farias normalmente no dia-a-dia, se alguém estranho te abordasse na rua. É muito fácil uma pessoa fingir ser algo que não é, aproveitando-se do anonimato do mundo virtual.
A curiosidade e o desejo de conhecer pessoas novas e/ou diferentes pode levar a decisões precipitadas e impulsivas que podem resultar em comportamentos de risco. E apesar de a maior parte dos/as utilizadores/as fazer um uso adequado das redes sociais, deves saber que há pessoas mal-intencionadas que utilizam as redes sociais e salas de chat para outras finalidades (por exemplo, situações de pedofilia, cyberbullying, entre outras).

Pode ser um grande desafio controlar e estabelecer regras para utilizares a internet e redes sociais, com segurança. Mas, se começares por definir o que deves/queres partilhar sobre ti e com quem queres fazê-lo, a tarefa será certamente mais fácil!


Associação Para o Planeamento da Familia

Equipa “ Sexualidade em Linha”



sábado, 1 de junho de 2019

Perturbações do Comportamento Alimentar


                                       
Como é que as Perturbações do Comportamento Alimentar aparecem na Adolescência?

Uma das mudanças mais evidentes que acontece na Adolescência, refere-se ao corpo.
Mudam-se os corpos…mudam-se as vontades…tu comparas-te e comparam-te.
Os modelos que tentas copiar estão, habitualmente, deslocados no tempo e na forma. No tempo, porque, muitas vezes, são mais velhos, uma década (por exemplo a Sara Sampaio, que tem quase trinta anos); na forma porque as imagens dos modelos que pretendes imitar, são frequentemente estilizadas, ou seja, alteradas com o fim de obter um determinado efeito estético.
Neste conjunto das mudanças, está aquilo que sentes em relação à tua imagem e à tua satisfação ou insatisfação corporal.
E, neste emaranhado de emoções, caminhas entre o que és, o que gostarias de ser e como idealizas a tua própria imagem no futuro. Temes muito a rejeição e há uma insegurança enorme relacionada com a tua imagem corporal, pelo que, quase sem dares por isso, envolves-te em dietas ou exercício físico exagerado.
As dietas são consideradas, os comportamentos mais frequentes que iniciam as Perturbações do Comportamento Alimentar.
Quando te apercebes, vives entre pesos, medidas, angústias e desgastas-te na procura inalcançável de uma beleza ideal.
Os distúrbios alimentares surgem assim, neste contexto, sob múltiplas formas, sendo uma das doenças crónicas, mais frequente, na tua idade e que pode ter consequências para toda a vida.


O que são as Perturbações do Comportamento Alimentar?

Nas últimas décadas, tem-se assistido a um aumento na incidência das Perturbações do Comportamento Alimentar na adolescência, sendo a terceira doença crónica mais comum nesta etapa da vida.
 A doença, que provavelmente mais ouviste falar, é a Anorexia Nervosa, uma das doenças psiquiátricas mais graves na adolescência.
Está associada a um receio intenso de engordar, apesar do baixo peso objetivo. Nesta doença, esta questão, assume um papel central na tua vida.
Passas a avaliar-te constantemente, em termos de peso e forma corporal e, como a doença decorre num período crítico do teu desenvolvimento pessoal e social, este vai ficar muito afetado. Vives num receio permanente de engordar e ser avaliado pelos outros.
É uma doença com muitas complicações orgânicas, atribuídas à restrição calórica e à perda de peso e cerca de metade das mortes são de causa orgânica.

As dietas milagrosas, impõem grandes restrições calóricas, devendo ser evitadas, porque reduzem o aporte de nutrientes importantes, não podem ser sustentadas por longos períodos de tempo e podem prejudicar gravemente a tua saúde. Pode haver, inclusivamente, comprometimento importante dos órgãos. Estas dietas, não permitem a aquisição de hábitos alimentares adequados e são perigosas para a saúde. Podem, paradoxalmente, resultar numa  perda de massa magra.

O peso saudável resulta de uma alimentação e de um exercício equilibrados. Um corpo perfeito, é aquele que nos faz sentir bem connosco mesmos e, fundamentalmente, um corpo que nos permita ser saudáveis.
A beleza vem de dentro para fora e cada um de nós é especial e único.

Dra Alzira Ferrão Ferreira
Centro Hospitalar Tondela Viseu

quarta-feira, 1 de maio de 2019

As transformações da puberdade


A puberdade corresponde às transformações físicas e psicológicas que ocorrem na transição da infância para a adolescência.

As transformações mais visíveis tanto em meninos como meninas são o crescimento rápido em altura e o desenvolvimento de caracteres sexuais secundários (exemplo: aparecimento dos pêlos púbicos, crescimento das mamas nas meninas, voz grave nos meninos, etc).
Existe uma grande variedade entre os jovens no que respeita à idade em que estas transformações ocorrem, que dependem de múltiplos fatores como a genética, o peso e a quantidade de gordura corporal.

O que causa a puberdade?

As transformações da puberdade ocorrem devido à ação de hormonas. As hormonas que são produzidas no cérebro atuam nos ovários nas mulheres e nos testículos nos homens. Estes orgãos produzem por sua vez as hormonas sexuais femininas e masculinas.

Outro tipo de hormonas produzidas na glândula suprarrenal, têm também contributo nas transformações da puberdade, nomeadamente no crescimento de pêlos púbicos, pêlos axilares e acne.

Transformações da puberdade nas meninas

No sexo feminino, as hormonas sexuais produzidas nos ovários são o estrogéneo e a progesterona. Estas hormonas atuam em vários órgãos do corpo, estimulando o seu crescimento e funcionamento.
Na maior parte das meninas, o primeiro sinal da puberdade é o crescimento das mamas. Em menor percentagem  pode surgir primeiro o crescimento do pêlo púbico.
Aproximadamente cerca de 2 anos após estas primeiras alterações, surge a primeira menstruação a que damos o nome de menarca. Cerca de 6 meses antes da menarca, começa a ocorrer um corrimento vaginal transparente ou esbranquiçado, de consistência líquida, sem cheiro que também resulta da ação das hormonas na vagina.
Após a menarca, as menstruações que se seguem são muito frequentemente irregulares. As irregularidades podem ocorrer durante alguns anos após a menarca mas com o amadurecimento do eixo hormonal, os ciclos menstruais têm tendência a regularizarem.

Transformações da puberdade nos meninos
No sexo masculino, com a ação da testosterona, a primeira alteração que frequentemente se observa é o crescimento dos testículos.
Com o desenvolvimento, o pénis aumenta de tamanho, há o crescimento de pêlos púbicos, axilares e faciais, inicia-se a ejaculação de esperma durante o sono, a voz torna-se mais grave e o tecido muscular desenvolve-se.
Por vezes, pode acontecer o desenvolvimento ligeiro das mamas porque alguma testosterona pode ser convertida em hormona sexual feminina que promove este crescimento. Geralmente ocorre no início da puberdade e tende a diminuir e resolver espontaneamente com o tempo.

Outras alterações da puberdade
As alterações da puberdade podem afetar o funcionamento psicológico, podendo surgir depressão, ansiedade, perturbações na auto-imagem, perturbações no humor e no comportamento social.

O acompanhamento da criança/adolescente por profissional de saúde durante esta fase da vida é importante para avaliar a sequência do crescimento e aquisição dos caracteres sexuais secundários, a informação e o esclarecimento de dúvidas que poderão surgir como o aconselhamento contracetivo, a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, entre outros.

Dra Cátia Silva
Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra

segunda-feira, 15 de abril de 2019

As tuas dúvidas têm um espaço: vacina do HPV


Como prometido, todos os meses vamos responder em texto aberto às 5 dúvidas mais frequentes sobre o tema do mês. Como já sabes, o tema de Abril é " Vacina do HPV", e assim sendo aqui ficam as respostas às perguntas mais comuns. 

1. A vacina do Centro de Saúde é só dada as raparigas. É uma vacina exclusiva das meninas?

O Programa Nacional de Vacinação Português para já apenas oferece a vacina às raparigas, mas os rapazes também têm toda a vantagem em recebê-la. 
Tratando-se o HPV de uma doença sexualmente transmissível, é real a importância da prevenção em ambos os sexos. 

Assim, diminui-se o risco de transmissão e previne-se a incidência de doença no colo do útero, anûs, pénis, orofaringe ou outros locais relacionados com a transmissão sexual do vírus.


2. Como é administrada a vacina?

A vacina contra os genótipos 16 e 18  (bivalente - Cervarix) é administrada aos 0, 1 e 6 meses (3 doses).

A vacina contra os genótipos 6,11,16,18 (tetravalente – Gardasil 4) e contra os genótipos 6,11,16, 18, 31, 33, 45, 52 e 58 (nonavalente – Gardasil 9) tem uma administração que depende da idade:

  • Para rapazes e raparigas ≥ 10 e < 15 anos de idade: esquema de 2 doses aos 0 e aos 6 meses
  • Para rapazes e raparigas ≥ 15 anos: esquema de 3 doses aos 0, 2 e 6 meses.


3. Quanto custa a vacina?

A vacina quando administrada segundo o plano nacional de vacinação é gratuita, isto é para raparigas com idade inferior a 18 anos.

Para mulheres com mais de 18 anos e  para os rapazes, cada dose da vacina nonavalente (Gardasil 9) custa 143.40 euros, sendo que dependendo da idade devem ser feitas 2 ou 3 doses (286.8 euros ou 430.2 euros).

Cada dose da vacina bivalente (Cervarix) custa 45.66 euros. Assim sendo, as 3 doses recomendadas tem um custo total de 136.98 euros.

4. A vacina previne por completo o aparecimento do cancro do colo do útero?

A vacina previne o aparecimento do cancro do colo do útero relacionado com os vírus abrangidos pelos genótipos da vacina.

Como já explicado, 70-75% dos casos de cancro do colo do útero estão relacionados com infecção por HPV tipos 16 e 18. Assim sendo, todas as vacinas disponíveis abragem estes genotipos. 

A vacina tetravalente abrange ainda os genótipos 6 e 11 responsáveis na sua maioria pelo aparencimento de verrugas e condilomas (90%). 

A vacina novavalente acresce a estes genótipos os 31, 33, 45, 52 e 58, considerados também HPV de alto risco para o aparecimento de cancro do colo do útero. 

Assim, compreendemos que a vacinação é essencial para a prevenção do cancro do colo do útero, não devendo ser descurado o uso do preservativo.


5. Se eu fizer a vacina, já não preciso fazer o rastreio do cancro do colo do útero?

Não, esta informação não é verdadeira. Apesar da vacinação ser um passo importante na prevenção do cancro do colo do útero, o rastreio deve ser mantido para todas as mulheres de igual forma.



Não percam já no próximo  mês um novo tema de debate no blog: as transformações da puberdade!
Até lá.