sábado, 5 de janeiro de 2019

A interrupção voluntária da gravidez (IVG)


A interrupção voluntária da gravidez (IVG), ou aborto por opção da mulher, é permitida em Portugal desde 2007. Após esta data, e ao abrigo da Lei nº 16/2007, a mulher pode decidir terminar a gravidez até às 10 semanas e 6 dias, sendo esta realizada de forma gratuita em estabelecimentos de saúde devidamente autorizados e com os cuidados médicos adequados.
Até 2007 verificavam-se IVG´s realizadas de forma ilegal em locais não apropriados, com complicações de saúde graves e elevadas taxas de mortalidade. A legalização do aborto veio desta forma permitir a sua realização de forma legal e segura, respeitando a vontade da mulher e a sua integridade física e psicológica.
Como se procede nestes casos? Vamos explicar passo a passo
1- Sempre que se suspeite de gravidez, deve ser feito um teste à urina (adquirido numa farmácia) ou um teste sanguíneo.
2- Uma vez confirmada a gravidez, a mulher deve dirigir-se ao Centro de Saúde ou ao Hospital da sua área de residência e demonstrar a vontade de realizar uma IVG. Se a mulher desejar fazer a interrupção num hospital fora da área de residência, pode fazê-lo mas deve falar com o técnico de saúde de referência do seu Centro de Saúde ou Hospital.
3- Será depois encaminhada para uma consulta prévia, que é a consulta específica para a realização da IVG, normalmente marcada em 5 dias.
4- A mulher pode ir à consulta sozinha ou acompanhada. Nesta a equipa médica e de enfermagem deve fornecer a informação necessária para que a mulher tome uma decisão livre, informada e responsável.
5- É realizada na primeira consulta a datação da gravidez para confirmar que está ainda dentro do prazo legal (10 semanas e 6 dias) e que portanto se pode proceder à IVG
6- É entregue à mulher um consentimento assinado que deverá ser lido, assinado e entregue até à data de realização da IVG. No caso de adolescentes com menos de 16 anos ou mulheres psiquicamente incapazes, o consentimento deverá ser assinado pelo seu representante legal (pai, mãe ou tutor).
7- Na segunda consulta, obrigatoriamente marcada após um período mínimo de 3 dias de reflexão, é realizada a IVG de acordo com o método escolhido conjuntamente com a equipa médica. Se a mulher precisar de apoio psicológico/social ou aconselhamento ou ainda mais tempo de reflexão, este pode ser dado.
8- O aborto pode ser feito com medicamentos ou recorrendo a métodos cirúrgicos, sendo na grande maioria realizado sem necessidade de ficar internada. Na IVG medicamentosa há uma consulta para a primeira toma dos medicamentos, sendo a segunda toma normalmente feita 2 dias depois, em casa pela mulher. Nos casos cirúrgicos, a mulher vai ao bloco operatório fazer uma aspiração do conteúdo uterino sob anestesia, que demora apenas alguns minutos (5-20 minutos). Normalmente apenas fica no hospital uma manhã ou uma tarde.
9- No dia da IVG é marcada uma consulta de controle a realizar-se dentro de 2 semanas. Esta é fundamental para se confirmar se a IVG foi bem sucedida.
As complicações da IVG são raras se esta for feita nos locais de saúde adequados. A mulher pode voltar a ter relações sexuais quando se sentir preparada para isso, sendo que a fertilidade (capacidade da mulher voltar a engravidar) é retomada cerca de 10 dias depois da interrupção. É assim importante que a mulher tenha alta da consulta com um método contracetivo adequado e eficaz. Escolher um método para evitar a gravidez que melhor se adeque à mulher é um passo fundamental do processo de consulta pós-IVG.

É normal uma hemorragia vaginal mais abundante nos primeiros 3 dias após IVG, sendo que depois deste tempo irá torna-se cada vez menor. A perda de sangue dura ainda assim cerca de 10-14 dias, sendo que em alguns casos pode durar até 60 dias.
Após a IVG, a mulher deve estar especialmente atenta aos seguintes sinais de alarme para ir à urgência do hospital:
  • ·         Hemorragia muito forte
  • ·         Sensação de desmaio
  • ·         Febre alta e persistente
  • ·         Cólicas na barriga acompanhadas de dores violentas
  • ·         Episódios de diarreia persistentes após as primeiras 24 horas
  • ·         ​Desconforto emocional muito intenso e prolongado



Dra. Tânia Ascensão
Médica interna de Ginecologia Obstetrícia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra

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