A
interrupção voluntária da gravidez (IVG), ou aborto por opção da mulher, é
permitida em Portugal desde 2007. Após esta data, e ao abrigo da Lei nº 16/2007, a mulher pode decidir terminar a gravidez até
às 10 semanas e 6 dias, sendo esta realizada de forma gratuita em estabelecimentos de saúde devidamente
autorizados e com os cuidados médicos adequados.
Até
2007 verificavam-se IVG´s realizadas de forma ilegal em locais não apropriados,
com complicações de saúde graves e elevadas taxas de mortalidade. A legalização
do aborto veio desta forma permitir a sua realização de forma legal e segura,
respeitando a vontade da mulher e a sua integridade física e psicológica.
Como
se procede nestes casos? Vamos explicar passo a passo
1- Sempre que se suspeite de gravidez, deve ser feito um
teste à urina (adquirido numa farmácia) ou um teste sanguíneo.
2- Uma vez confirmada a gravidez, a mulher deve
dirigir-se ao Centro de Saúde ou ao Hospital da sua área de residência e
demonstrar a vontade de realizar uma IVG. Se a mulher desejar fazer a
interrupção num hospital fora da área de residência, pode fazê-lo mas deve
falar com o técnico de saúde de referência do seu Centro de Saúde ou Hospital.
3- Será depois encaminhada para uma consulta prévia, que
é a consulta específica para a realização da IVG, normalmente marcada em 5 dias.
4- A mulher pode ir à consulta sozinha ou acompanhada.
Nesta a equipa médica e de enfermagem deve fornecer a informação necessária
para que a mulher tome uma decisão livre, informada e responsável.
5- É realizada na primeira consulta a datação da gravidez
para confirmar que está ainda dentro do prazo legal (10 semanas e 6 dias) e que
portanto se pode proceder à IVG
6- É entregue à mulher um consentimento assinado que
deverá ser lido, assinado e entregue até à data de realização da IVG. No caso de adolescentes com menos de 16
anos ou mulheres psiquicamente incapazes, o consentimento deverá ser assinado
pelo seu representante legal (pai, mãe ou tutor).
7- Na segunda consulta, obrigatoriamente marcada após um
período mínimo de 3 dias de reflexão, é realizada a IVG de acordo com o método
escolhido conjuntamente com a equipa médica. Se a mulher precisar de apoio psicológico/social
ou aconselhamento ou ainda mais tempo de reflexão, este pode ser dado.
8- O aborto pode ser feito com medicamentos ou recorrendo
a métodos cirúrgicos, sendo na grande maioria realizado sem necessidade de
ficar internada. Na IVG medicamentosa há uma consulta para a primeira toma
dos medicamentos, sendo a segunda toma normalmente feita 2 dias depois, em casa
pela mulher. Nos casos cirúrgicos, a mulher vai ao bloco operatório fazer uma
aspiração do conteúdo uterino sob anestesia, que demora apenas alguns minutos
(5-20 minutos). Normalmente apenas fica no hospital uma manhã ou uma tarde.
9- No dia da IVG é marcada uma consulta de controle a realizar-se dentro de 2 semanas. Esta é
fundamental para se confirmar se a IVG foi bem sucedida.
As complicações da
IVG são raras se esta for feita nos locais de saúde adequados. A mulher pode
voltar a ter relações sexuais quando se sentir preparada para isso, sendo que a
fertilidade (capacidade da mulher voltar a engravidar) é retomada cerca de 10
dias depois da interrupção. É assim importante que a mulher tenha alta da
consulta com um método contracetivo adequado e eficaz. Escolher um método para
evitar a gravidez que melhor se adeque à mulher é um passo fundamental do
processo de consulta pós-IVG.
É normal uma hemorragia vaginal mais abundante nos primeiros 3 dias após IVG, sendo que depois deste tempo irá torna-se cada vez menor. A perda de sangue dura ainda assim cerca de 10-14 dias, sendo que em alguns casos pode durar até 60 dias.
Após a IVG, a mulher deve estar especialmente
atenta aos seguintes sinais de alarme para ir à urgência do hospital:
- · Hemorragia muito forte
- · Sensação de desmaio
- · Febre alta e persistente
- · Cólicas na barriga acompanhadas de dores violentas
- · Episódios de diarreia persistentes após as primeiras 24 horas
- · Desconforto emocional muito intenso e prolongado
Dra. Tânia Ascensão
Médica interna de Ginecologia Obstetrícia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
Sem comentários:
Enviar um comentário
Coloca a tua dúvida!